Com foco em eficiência no atendimento ao coordenador, Fundação de Apoio da UFMG consolida uma trajetória digital de décadas, marcada por solidez na proposição de estratégias de desenvolvimento próprio de sistemas
Marcelo Cardoso

Alan Gonçalves, técnico de TI da Fundep, durante o desenvolvimento do
GPF – sistema interno de gestão de projetos e contratos. Foto: Acervo/Fundep.
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Duas fundações unidas para o desenvolvimento de uma plataforma moderna, flexível e 100% em nuvem, voltada à gestão da execução de projetos de pesquisa, inovação e desenvolvimento institucional. Em junho de 2025, a Fundação de Apoio da UFMG (Fundep) e a Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec), vinculada à Fiocruz, anunciaram uma parceria estratégica para o desenvolvimento do GPF 2.0.
Baseado em tecnologias como .NET, React e PostgreSQL, a versão 2.0 do Gerenciador de Projetos Fundep (GPF) será uma evolução do modelo desenvolvido pela Fundep em 2007, adaptado às necessidades das duas fundações. O desenvolvimento será colaborativo, reunindo especialistas em tecnologia e atendimento das duas instituições, com foco na experiência do usuário, automação inteligente e integração com sistemas governamentais.
O lançamento do GPF2 é um marco de uma história de transformação digital da Fundep, iniciada ainda na década de 1980, sob gestão de Ivan Moura Campos, professor emérito do curso de Ciência da Computação da UFMG e então diretor-executivo da Fundep. Enquanto o Brasil ainda avançava na adoção dos computadores pessoais (PCs), gerentes, analistas e colaboradores da Fundep conheciam o que seria o ponto inicial de uma transformação digital que posicionaria a Fundação como referência na área.
“O volume e a complexidade dos serviços demandados à Fundep pela comunidade de pesquisa da UFMG estavam crescendo rapidamente. Tarefas como acompanhamento de processos de importação, prestação de contas e contabilidade eram feitas de forma manual, o que comprometia a eficiência e a qualidade do serviço. Era essencial mudar”, lembra Campos ao falar sobre a informatização do sistema financeiro da Fundação, a primeira de uma série de transformações que se seguiriam nas décadas seguintes.
Professor Ivan Moura Campos, diretor-executivo da Fundep no período 1987-1990, foi o responsável
pela implementação do primeiro sistema informatizado da Fundep. Foto: Projeto República.
Ousadia de sucesso com adesão dos colaboradores
O ano era 1988 e a aposta era arriscada: instalar computadores em todos os postos de trabalho, conectá-los em rede e treinar as equipes no uso de planilhas Lotus 123. Parecia uma ousadia para uma fundação de apoio na época. Mas foi justamente esse risco que deu origem a uma cultura digital sólida.
“Além do curso no Lotus, os funcionários prototiparam, eles mesmos, as primeiras soluções. Uma vez estabilizadas as planilhas, todos se tornaram muito mais capazes de especificar a evolução do sistema em termos de seus módulos principais, as funcionalidades desejadas e o fluxo das informações, relatórios etc. Foi uma experiência de sucesso, adotada com entusiasmo e competência por todos os funcionários”, lembra Campos.
A informatização do primeiro sistema financeiro foi feita tendo como base o Pick, um sistema operacional americano multiusuário, multitarefa e multiprocessador, comercializado desde 1974. Embora já não fosse considerado um sistema de ponta pelos padrões da época, sua aplicação na Fundação conquistou algo importante para a transformação digital: a adesão da equipe. Conforme o professor Ivan, “em pouco tempo, e sob pleno acompanhamento do Conselho Curador, relatórios que antes eram feitos manualmente passaram a ser gerados com mais agilidade, os dados circulavam entre os setores, e a comunidade acadêmica passou a perceber uma Fundep mais precisa e eficiente”.
O uso da ferramenta obteve tanto sucesso que, no início dos anos 1990, a equipe de desenvolvedores do sistema Pick visitou a Fundep para conhecer como o software estava otimizando os processos financeiros internos. Pouco tempo depois, a solução começou a ser comercializada para outras fundações de apoio no País.
30 anos para alcance da maturidade digital
Entre o pioneirismo dos anos 90 e a nova versão do GPF 2.0 – que entre outras inovações faz uso de inteligência artificial para assumir ações repetitivas e melhorar a visualização para o analista de projeto – a história de transformação digital da Fundep inclui marcos como a aquisição do supercomputador IBM RS/6000, em 1993, que aumentou a capacidade de processamento de dados, tornando possível a criação de uma rede interna que permitiu o acesso remoto de coordenadores de projetos aos sistemas de gestão, facilitando consultas a projetos e dados financeiros de forma rápida e automatizada.
Em fevereiro de 1996, logo nos primeiros dias de nascimento da internet comercial no Brasil, era lançado o primeiro site da Fundep, que reunia informações dirigidas aos coordenadores, como regras de financiadores e passo a passo da gestão de projetos.
Interface do site da Fundep em 2002, capturada pela Wayback Machine.
Em 2003 foi criado o Manual do Coordenador (hoje Espaço do Coordenador), um sistema web que reunia um conjunto de informações sobres procedimentos, exigências e diretrizes legais e funcionais, servindo como referência para orientar a relação entre a Fundep, os coordenadores de projetos e os financiadores.
Em 2007, a aquisição do primeiro servidor de banco de dados da Fundep com mais de um terabyte de capacidade reforçou a segurança das operações, ampliou o registro histórico dos procedimentos realizados e triplicou a capacidade de armazenamento de dados da Fundação. “A Fundep foi a primeira fundação de apoio a ter um website, a primeira a permitir solicitações inteiramente online – por meio do Espaço do Coordenador – e o investimento no servidor foi mais um avanço tecnológico, com um servidor com capacidade de armazenamento que só era encontrado, em um único computador, em empresas de grande porte”, relembra Ziviani.
Em 2020, a pandemia de Covid-19 foi uma prova de fogo sobre a maturidade digital da Fundep, que, em poucos dias, migrou todo seu corpo para o teletrabalho e implantou, em tempo recorde, a assinatura eletrônica, permitindo que mais de 9,2 mil documentos fossem validados remotamente ainda no primeiro ano da pandemia.
A transformação digital na Fundep ganhou um novo impulso em 2025, com a incorporação de soluções baseadas em inteligência artificial (IA). Em áreas tão distintas quanto o almoxarifado, o departamento pessoal e o atendimento interno via abertura de chamados, a Fundação tem se preocupado em explorar o potencial dessas tecnologias para agilizar processos, reduzir erros e liberar tempo dos colaboradores para atividades mais estratégicas.
Na Fundep, esse esforço vem sendo sustentado por um compromisso institucional com a inovação e pela compreensão de que a tecnologia é um meio para qualificar a entrega pública. “Não se trata apenas de automatizar tarefas. Estamos falando de criar uma cultura digital capaz de ampliar o nosso impacto junto às universidades, pesquisadores e parceiros”, afirma André Oliveira, gerente de Tecnologia da Informação da Fundep.
Professor Márcio Ziviani, diretor-executivo da Fundep no período 2006-2010.
Sistema próprio de gestão destaca Fundep
Em 2007, o lançamento do GPF.Net marcou um divisor de águas. Fruto de um amplo processo de diagnóstico e reestruturação, o GPF foi construído a partir do investimento na tecnologia .NET, da Microsoft, reconhecida pela robustez, segurança e escalabilidade e foi concebido sob o princípio da orientação a serviços, com módulos autônomos, porém integrados, capazes de atender às diferentes frentes de atuação da Fundação.
Além do Espaço do Coordenador, a plataforma também passou a abrigar o sistema de gestão de concursos, desenhado para atender todo o processo de realização de concursos públicos (da proposição à homologação); o sistema financeiro, que passou a garantir a conciliação bancária em até quatro dias úteis, contra até 15 anteriormente; a folha de pagamentos, responsável por gerir diversas modalidades de contratos, salários, bolsas e benefícios, além do portal de compras, desenhado para mapear processos internos, facilitar o acompanhamento de fornecedores e dar mais agilidade às aquisições nacionais e internacionais.
Ao final de 2007, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ciente do esforço da Fundep em aprimorar as ferramentas de gestão, elegeu o software como o melhor sistema dentre as instituições brasileiras gerenciadoras de projetos, abrindo financiamento para outras fundações nacionais adquirirem a ferramenta. Em 2014, o sistema ganhou sua versão mobile, permitindo aos usuários consultarem o status de pedidos e fazer aprovações, solucionar pendências e verificar a situação financeira de cada projeto, 24h por dia, de qualquer lugar do planeta.
Para o diretor da Fundep, professor Walmir Caminhas, o GPF 2.0 simboliza um modelo de gestão que alia tecnologia à missão institucional. “É uma ferramenta que representa nossa capacidade de desenvolver soluções próprias alinhadas às necessidades dos projetos que apoiamos e às exigências dos órgãos de controle. É um exemplo concreto de como a Fundep transforma conhecimento em infraestrutura de apoio à ciência, à inovação e à educação superior”, afirma Caminhas.


