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50 anos como referência em gestão de contratos internacionais

Fundep investe em estruturação de processos, treinamentos e relacionamento para construir excelência no apoio a projetos financiados por organizações estrangeiras e nas iniciativas de internacionalização da UFMG

Roberta Xavier

A Fundep apoia ações de valorização da Casa da Glória desde a década de 1980,
período da sua primeira restauração. Foto: Divulgação/Casa da Glória.

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Uma newsletter que mensalmente chega à caixa eletrônica de mais de 30 mil pesquisadores, da UFMG e 11 outras instituições de ciência e tecnologia apoiadas, é o mais recente instrumento de apoio da Fundep a acadêmicos que buscam, no exterior, recursos para suas ações de ensino, pesquisa e extensão. Desde maio de 2025, a publicação “Oportunidades de Financiamento” coloca as cinco décadas de relacionamento com importantes agências de fomento internacionais a serviço dos coordenadores de projetos apoiados Fundep, aportando não apenas a lista de instituições com editais abertos, mas destacando em poucas linhas as principais informações, como linhas de pesquisa, itens apoiados, prazos para inscrição e execução dos projetos. “Tudo para que o pesquisador necessite despender o menor tempo possível para encontrar financiamento, liberando-o para se concentrar na condução da pesquisa em si”, esclarece Rejane Martins, gerente de Negócios e Parcerias.

Mais do que divulgar a listagem de editais abertos, a equipe se debruça sobre os editais, já que submeter projetos a órgãos de fomento requer um estudo rigoroso dos critérios dos editais e das exigências das instituições financiadoras para que os pesquisadores tenham a sua proposta selecionada entre tantos concorrentes. Quando se trata de organizações internacionais – sejam elas agências de fomento, organismos multilaterais ou universidades estrangeiras -, as variáveis ficam ainda mais complexas, tendo em vista as regras de cada uma e, até mesmo, a legislação de cada país, completa a gerente.

Para dar conta do desafio, equipe com domínio de língua estrangeira e contratação de softwares acurados de tradução ajudam a ampliar o escopo de instituições pesquisadas e, com o isso, o número de oportunidades a cada edição. E se, atualmente, a busca por financiamento internacional conta com as facilidades advindas das tecnologias em rede,  fazer gestões junto a financiadores estrangeiros para descobrir possibilidades de financiamento já era algo que a Fundep fazia numa época em que ainda era necessário solicitar a ligação internacional a uma telefonista ou cruzar oceanos. 

“Muitos recursos vieram após a participação de professores da UFMG em eventos internacionais, em reconhecimento ao seu trabalho. Mas a Fundep também abria esse canal para atrair aporte financeiro para projetos da Universidade. Nós visitamos diversos órgãos de financiamento no exterior, em países como França, Estados Unidos, Inglaterra, e trouxemos oportunidades para pesquisadores”, lembra Maria da Conceição Marques Rubinger, que compôs a primeira equipe de projetos da Fundep, ainda nos anos 1980. 

Maria da Conceição Marques Rubinger, primeira gestora de projetos da Fundep. Foto: Ian Lara/Divulgação.

Meio bilhão de reais em contratos em cerca de 20 anos

Apenas entre 2000 e 2024, a Fundep gerenciou 723 projetos que totalizam R$ 426.578.142,43 em contratos com investidores internacionais que tiveram como contraparte, além da Fundep, a UFMG e ICT´s apoiadas, de acordo com o levantamento do setor de Financeiro e Contabilidade. Essa expertise, que foi desenvolvida ao longo de toda a história da Fundação, contribui para o bom andamento de pesquisas das instituições públicas apoiadas e da UFMG, além de fortalecer a imagem que o ensino superior brasileiro tem no cenário global da ciência e tecnologia.  

“Eu mesma fiz contato com instituições como o BID [Banco Interamericano do Desenvolvimento], Ford Foundation e Kellogg Foundation. Aproveitávamos cada viagem para tentar novos contatos”, relembra a primeira secretária-executiva da Fundep, Gilca Wainstein.  

Com o passar dos anos, as demandas por capital estrangeiro exigiram a estruturação de processos e preparação de documentação específica, com tradução juramentada, tais como modelos de contratos, apresentações institucionais e manuais. De acordo com Rejane Martins, foi no início dos anos 2000 que consolidou-se a percepção de que era necessário formalizar procedimentos para a captação de recursos internacionais. A contratação de analistas com domínio da língua inglesa também passou a ser a prática da área.

“Esse conhecimento foi desenvolvido, aprimorado, mapeado e documentado. Nós também fizemos treinamento com equipes internas dos núcleos do Centro Integrado de Atendimento e de Prestação de Contas, que dão sequência ao processo, já que o setor de Negócios e Parcerias atua até a assinatura do instrumento jurídico”, explica.

Certificações internacionais e idoneidade aos olhos do financiador

Professora do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG há 28 anos, Walderez Ornelas Dutra conduz hoje três projetos financiados por organizações internacionais, dois deles pela Leducq Foundation e outro pelo National Institute of Health. Eles investigam, respectivamente, a imunidade adaptativa do corpo humano à bactéria Streptococcus pyogenes (Streptococcus do Grupo A), a prevenção de doenças reumáticas e as estratégias potenciais para reverter ou prevenir o desenvolvimento da cardiopatia associada à doença de Chagas. Ela destaca o trabalho da Fundep na submissão de projetos nas etapas de contratação, preparo e revisão de contratos, além da condução diária do gerenciamento do projeto.  

“Sobretudo no contexto internacional, é importante ter uma instituição reconhecida, com as certificações necessárias e idônea, como é o caso da Fundep. Além de ajudar na condução dos mecanismos necessários para o projeto, traz confiabilidade às agências de fomento”, observa a professora titular do Departamento de Morfologia, que tem um histórico de 20 iniciativas com apoio da Fundep, sendo nove com aportes de organizações internacionais.

São vários os desafios e peculiaridades dos projetos que envolvem financiadores internacionais, dentre eles, garantir às parceiras o entendimento do papel de uma fundação de apoio, já que fora do Brasil as próprias universidades assumem a gestão dos recursos.  

“Em muitos casos nós precisamos também fazer um azeitamento entre a legislação do país estrangeiro e a do Brasil. Então, nós atuamos como gestora administrativa, financeira, jurídica e de compliance dos projetos. Na prática, isso significa negociar e revisar contratos, garantir conformidade legal e regulatória, realizar controles de câmbio, prestar contas e atender às exigências de auditorias internacionais. Cabe à Fundep garantir a segurança, transparência e integridade desses contratos, destaca Rejane.  

É preciso ter, ainda, cadastros ativos em sistemas globais de financiamento, como o System for Award Management, exigido para recebimento de recursos do governo dos EUA, e o NATO Commercial and Government Entity Code e outros registros para operar com diferentes financiadores internacionais. Esse esforço conferiu à Fundep um diferencial que não é comum em fundações de apoio.  

“Hoje instituições como o National Institutes of Health (NIH), que equivale ao Ministério da Saúde americano, recomendam a Fundep para outras universidades e pesquisadores brasileiros que querem submeter propostas”, observa a gerente de Negócios e Parcerias.  
 
Desde 2009 a Fundep também faz a gestão de projetos de outras ICT´s apoiadas, sendo a primeira delas a Universidade Federal do ABC (UFABC). Atualmente, são 11 instituições apoiadas, como o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) e o Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército Brasileiro (DCT-EB), Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Essas instituições também possuem contratos com recursos provenientes de aportes estrangeiros, a exemplo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que tem grandes financiadores do ramo da indústria farmacêutica em seus projetos, como Pfizer, GKS e Janssen.

O médico infectologista, Alexandre Vargas Schwarzbold, é professor Associado de Medicina da UFSM e conduz ensaios clínicos de medicamentos e vacinas para doenças infecciosas, como a dengue e o vírus sincicial respiratório (RSV). Atualmente tem sete projetos em execução junto à Fundep, incluindo iniciativas financiadas por agentes internacionais que, segundo o especialista, demandam sempre atualização constante dos dados e assinaturas de termos de ausência de conflitos de interesses, troca de informações na língua inglesa e da formalização e alinhamento com leis estrangeiras. Foi muito importante a mediação da Fundep na agilização de importação de alguns medicamentos e insumos, quando da necessidade de termos em estoque para grupos controle no eventual recrutamento de participantes de pesquisa. Isso permitiu agilizar trâmites institucionais que, em geral, são mais lentos. Recentemente tivemos uma experiência com hospital canadenseSickkids – onde a Fundep ajudou muito na contratação de um seguro para a realização do estudo, conta o chefe e investigador principal do Centro de Pesquisa Clínica da UFSM, que já atuou em cerca de 20 projetos com a Fundação desde 2020.

Parceira na internacionalização da UFMG

Professor Aziz Tuffi Saliba, Diretor de Relações Internacionais da UFMG. Foto: Divulgação/UFMG.

Além do atendimento das demandas espontâneas dos pesquisadores da UFMG e das ICT´s apoiadas, e das ações proativas da gerência de Negócios e Parcerias, a Fundep também viabiliza projetos da Diretoria de Relações Internacionais (DRI) da UFMG, órgão vinculado ao gabinete da reitoria responsável por promover a internacionalização da Universidade por meio de atividades que propiciem o fluxo de pessoas, ideias, conhecimento e programas culturais.

O diretor de relações internacionais da Universidade, Aziz Tuffi Saliba, avalia que a Fundep apoia a UFMG a cumprir seus objetivos na medida em que que dá mais agilidade na condução dos projetos de internacionalização. “A DRI oportuniza e prospecta parcerias, fortalece relações já existentes, descobre fontes de fomento e possibilita a mobilidade de docentes, discentes e servidores. E a Fundep instrumentaliza inúmeras atividades, tanto fora das nossas fronteiras quanto no âmbito da Universidade. A Fundação tem um regramento jurídico diferente da UFMG e por isso tem mais agilidade, respeitados os limites legais e do projeto, para fazer a gestão administrativo-financeira das nossas iniciativas”, explica o diretor.

Essa natureza complementar e cooperativa entre a DRI e da Fundep contribui para que a UFMG mantenha um relacionamento estreito com diversas organizações de países como Estados Unidos, China, Reino Unido e União Europeia, em especial a França. Isso impacta diretamente a imagem que a Universidade tem fora do país, o que pode ser observado em rankings internacionais.

O QS by Subject, do Reino Unido, edição 2025, classificou 63% das áreas do conhecimento da UFMG entre as melhores do mundo. Já o Academic Ranking of World Universities (ARWU) 2025 (Ranking Acadêmico de Universidades do Mundo) elegeu a UFMG como a melhor instituição federal de ensino superior do Brasil, ao lado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). As duas instituições dividem o quarto lugar geral entre as universidades brasileiras, ficando atrás apenas das estaduais USP, da Unicamp e da Unesp.

O Instituto Casa da Glória em Diamantina, eleito Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, se beneficiou dessa parceria em um projeto de reforma financiado pela Embaixada dos Estados Unidos. Em 2022, foram anunciadas as obras para substituição de estruturas de madeira e instalação dos sistemas de detecção e supressão de incêndios no casarão do século XVIII, que é utilizado para atividades educativas e turísticas. “Nós ajudamos o Instituto de Geociências a construir a proposta e apenas dois projetos foram selecionados em toda a América Latina, sendo este um deles. Foi uma atuação importante de uma unidade da UFMG e da DRI, com um papel fundamental da Fundep no recebimento e gestão dos recursos”, destaca o diretor.

Parceiro da UFMG há 10 anos, o Children’s National Medical Center, localizado em Washington, nos Estados Unidos, mantém atualmente um projeto em parceria com o Hospital das Clínicas para melhorar a detecção, tratamento e recuperação em pacientes carentes com doenças estruturais. Professor universitário na área de pediatria e Principal Investigator da pesquisa, Craig Sable conta que a Fundep tem sido essencial para o sucesso da implementação dos projetos da organização no Brasil.

O pesquisador destaca a estrutura centralizada e organizada para a gestão administrativa e financeira, além da capacidade de simplificar o processo de configuração de projetos, muitas vezes complexo. “A supervisão da Fundep garantiu a conformidade financeira e a consistência operacional, além de reduzir atrasos administrativos. Essa eficiência permitiu que nossa equipe se concentrasse mais plenamente nos aspectos científicos e programáticos do trabalho, contribuindo, em última análise, para uma execução mais tranquila e resultados mais sólidos.”

Edição: Tacyana Arce
Edição web: Marcelo Cardoso